Rosangela Hermani Alves Pacifico,
Especialista em Práticas Pedagógicas, Educação Básica e Gestão Escolar
Licenciando em Letras-Espanhol - UFSC
José Elias de Jesus,
MBA em Gestão Estratégica
Pós-Graduando em Tecnologia e Educação a Distância - UNC
Licenciando em Letras-Espanhol - UFSC
A luta por uma educação de qualidade tem sido primordial num país de dimensões continentais como o Brasil. Muitas estratégias foram utilizadas para que se disponibilizasse, à todos, esta tão necessária qualidade. Uma destas estratégias foi a educação a distância, que no Brasil não é algo tão novo. Barreto (2004 apud Costa 2006) informa que "a primeira proposta de educação a distância na esfera do ensino superior surge em 1972, por parte do Ministério da Educação (...)". Considerando que o artigo 80 da LDB já estava regulamentado pelo Decreto 5.622, de 19 de dezembro de 2005, passou-se a discutir a criação da UAB – Universidade Aberta do Brasil, ocorrendo sua instituição através do Decreto 5.800, de 08 de junho de 2006. Pires (2001 apud Moreira 2008) infere que as primeiras experiências de uso da EaD passaram a ser difundidas a partir de iniciativas de educadores e professores das Instituições Públicas de Ensino Superior, mas, atualmente, mais de 63% (Folha de São Paulo, 08/07/2001) dessas demandas são atendidas por IES privadas que estão querendo, também, oferecer outras alternativas como a EaD. O citado Decreto 5.622/2005 equiparou os cursos em ambiente EaD aos cursos presenciais, validando, nacionalmente, os diplomas e certificados emitidos por instituições de ensino regulares, cujos cursos foram devidamente autorizados pelos órgãos educacionais aos quais estão vinculadas.
Diante de tantas inovações necessárias à esta nova modalidade de ensino e aprendizagem, Costa (2006) cita experiências das Instituições Federais de Ensino, a exemplo da UFSC, afirmando que "(..) em muitos casos, a forma de institucionalização da EAD não segue uma racionalidade e nem modelo definido, mas é relativo em função do início do seu percurso".
Mas, o que é, exatamente, esta tal de Educação a Distância? “É o processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente. É ensino/aprendizagem onde professores e alunos não estão normalmente juntos, fisicamente, mas podem estar conectados, interligados por tecnologias, principalmente as telemáticas, como a Internet. Mas também podem ser utilizados o correio, o rádio, a televisão, o vídeo, o CD-ROM, o telefone, o fax e tecnologias semelhantes”. (MORAN, 2011). Contudo, cremos que a fundamentação pedagógica para a educação a distância deva ser baseada na idéia de ensino por competências, onde o docente passa a ser um orientador para que o aluno construa seu conhecimento. Essa abordagem pedagógica é necessária, em função do caráter eminentemente construtivista da EaD e a forte vinculação com as Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC's.
Todavia, faltam docentes que possuam este perfil, ou seja, que compreendam as metodologias e objetivos da EaD e saibam aplicá-las, além da antiga e atual falta de professores nas fases iniciais da vida escolar do povo brasileiro. Tornou-se, então, necessário unir as duas problemáticas, ou seja, formar novos professores e capacitá-los no uso das ferramentas da EaD. Neste contexto, Carvalho e Silva (2006) afirmam que "a formação do professor em uma modalidade com inserção tecnológica embutida na própria metodologia do curso será capaz de fazer uma diferença significativa em sua atuação na Educação Básica". Em relação às políticas Públicas direcionadas à formação de professores através da EaD, o MEC instituiu o Pró-Licenciatura - Programa de Formação Inicial para Professores dos Ensinos Fundamental e Médio. Carvalho e Silva (2006) informam tratar-se de “um Programa de formação inicial voltado para professores que atuam nos sistemas públicos de ensino, nos anos/séries finais do Ensino Fundamental e/ou no Ensino Médio e não têm habilitação legal para o exercício da função (licenciatura)".
Infelizmente, muitos professores formados nesta modalidade, ao chegarem à sala de aula, não modificam sua prática, ou seja, continuam com o mesmo fazer educacional do século passado, quando buscava-se transferir conhecimento ao aluno. Nos tempos atuais, na chamada era da tecnologia, da “geração X”, a modalidade EaD somente será eficaz se nós, docentes, nos conscientizarmos que devemos focar o ensino-aprendizagem, onde o aluno passa a ser o centro do processo na construção do seu conhecimento, através da apropriação cultural das TICs e da utilização das ferramentas da web 2.0, conjugadas com suas habilidades intelectuais, para, através da pesquisa e do estudo, melhorar e/ou construir conceitos. Neste processo, nós, docentes devidamente preparados, assumiremos o papel de um eficaz orientador.
Como ocorre com toda mudança, a EaD vem causando várias manifestações, favoráveis e desfavoráveis, além de abrir vários questionamentos. Neste contexto, Carvalho (2009) nos remete a uma questão importante, ao indagar que “uma vez garantindo a acessibilidade aos professores, mudando completamente os paradigmas de sua formação, conseguiremos transformar sua atuação no ambiente escolar? Estaremos construindo uma nova forma não apenas de atuação do professor, mas sim de gestão escolar? A opção por uma metodologia a distância garante as transformações nos paradigmas individuais?”. Obviamente, trata-se de um contexto ainda a ser atualizado, posto que não basta apenas formar docentes na modalidade EaD. As estruturas pedagógicas deverão ser adaptadas a esta nova realidade, apresentando-se ao novo docente um arcabouço de possibilidades materiais para que ele possa por em prática esta metodologia educacional. Castro (2011) adverte, inclusive, que “(...) convém refletir sobre o tipo de educação que se quer desenvolver e, especialmente, para quem quando tratamos de políticas públicas neste país. A que público esse meio estaria associado e que proposta pedagógica estaria a ensejar? No que concerne a realidade brasileira, não há como não levar em conta tal contexto, o da distância, como elemento fundamental da EAD, tendo em vista as diferenças de acesso a tecnologias entre as diversas regiões e os diferentes padrões de vida”.
Questionando a eficácia da EaD, Giolo (2008) argumenta que “(...) a persistir a tendência que se acentua a cada dia, o Brasil poderá, no curto prazo, ver espaços universitários (os destinados às licenciaturas, por exemplo) sendo substituídos por pólos de EaD, nos quais a movimentação de pessoas é pequena e o da cultura elaborada menor ainda (...)”. O autor continua sua insatisfação afirmando, inclusive, que “(...) a formação de pedagogos a distância deveria, talvez, se restringir à formação de pessoas interessadas em se preparar para ensinar a distância. Professores para o ensino presencial deveriam ser formados em cursos presenciais, salvo os casos em que se tratar de professores em serviço e não havendo formas presenciais ou mistas possíveis de serem oferecidas (...)”. A nosso ver, esta incoerência apontada pelo autor, rotulando competências e criando fronteiras, impondo barreiras, limites e distinções entre o docente com formação presencial e o em ambiente EaD, nos leva a repensar o fazer educacional relacionado ao processo de ensino e aprendizagem, pois, muitos de nós professores, independente da modalidade de formação, possuímos grandes dificuldades em compreender estas evoluções, a passos largos, da nossa realidade educacional. Por conta de certas competências que ainda não desenvolvemos, ou de habilidades que nos falta adquirir, não nos adaptamos fácil e rapidamente às mudanças. Então nos surge a indagação: o que há de errado? Cremos que o desenvolvimento do professor e os processos de aprendizagem podem, através da correta apropriação do fazer educacional, encontrarem as deficiências deste paradoxo e apontar as soluções adequadas.
A educação, presencial ou a distância, ainda é o grande diferencial neste mundo globalizado. Certamente, ambos os modelos necessitam de aprimoramentos e adequações frente à nova realidade onde, de um lado, temos seres tão abastados de recursos e habilidades e, doutro lado, tantas carências e tantas competências e habilidades a serem afloradas. Entendemos que as dificuldades não estejam somente no modelo de educação na qual o professor foi formado. Temos que considerar, com muita propriedade, as características e as peculiaridades de cada aluno, pois, se não o temos como centro deste processo de ensino-aprendizagem, muito pouco adiantará em qual modelo nos formarão docentes. A falta de "cultura elaborada", ao qual refere-se Giolo, está presente em ambas as modalidades. Basta observar o perfil dos egressos nos mais diversos cursos. A deficiência não está no modelo mas, sim, no processo.
Obviamente, ainda há muito o que se aperfeiçoar, não somente quanto à legislação e a metodologia mas, principalmente, no tocante ao aprimoramento cultural dos nossos docentes, notadamente aqueles que, como nós outros, são frutos da formação básica e acadêmica buriladas nas metodologias do século passado. Precisamos reaprender a sermos compartilhadores, disseminadores do conhecimento, neste novo processo de ensino-aprendizagem, e nos apropriarmos culturalmente das TIC's, enquanto ferramentas para o ensino e a aprendizagem, e não apenas sermos meros mastigadores de livros e apostilas. Temos que formar pensadores críticos e não simples seres alienados, robotizados. Neste contexto, cremos que estamos no caminho certo, muito embora ainda estejamos a passos curtos, aliás, muito curtos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Decreto 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/dec_5622.pdf. Acesso: 05 jun 2011.
CARVALHO, Ana Beatriz Gomes. A Educação a Distância e a Formação de Professores na Perspectiva dos Estudos Culturais. Paraíba, 2009. 220 p. Tese (Doutorado em Educação) - Centro de Educação, Universidade Federal da Paraíba.
CARVALHO, Ana Beatriz e SILVA, Eliane Moura. Políticas Públicas em Educação a Distância e a Formação de Professores no Estado da Paraíba. In: IV SEMINÁRIO REGIONAL DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO NORDESTE, 2006.
CASTRO, Flávio. Educação a Distância e Políticas Públicas no Brasil. Uma Experiência do Núcleo de Educação a distância da Universidade de Brasília. Disponível em: http://www2.abed.org.br/visualizaDocumento.asp?Documento_ID=41. Acesso: 20 mai 2011.
COSTA, Maria L. Furlan: Ensino superior a distância no Brasil: Políticas públicas e estratégias de gestão. Disponível em: http://www.cibersociedad.net/congres2006/gts/comunicacio.php?id=374&llengua=ga. Acesso: 21 mai 2011.
GIOLO, Jaime. A Educação a Distância e a Formação de Professores. Educ. Soc., Campinas, vol. 29, n. 105, set/dez 2008, p. 1211-1234. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v29n105/v29n105a13.pdf. Acesso: 20 maio 2011.
MORAN, José Manuel. O que é educação a distância. Publicação online. Disponível em: http://www.eca.usp.br/prof/moran/dist.htm. Acesso: 15 mai 2011.
MOREIRA, João Roberto. A EaD no Ensino Superior . Publicação online: 05 fev 2008. Disponivel em: http://www.college.com.br/artigos/a-ead-no-ensino-superior. Acesso: 20 mai 2011.
PIRES, Hindenburgo Francisco. Universidade, Políticas Públicas e Novas Tecnologias Aplicadas à Educação a Distância. Revista Advir, Rio de Janeiro, n. 14, 2001, pp.22-30.
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